Por Dra.
Marcela Guimarães Cavalcanti Ribeiro
Quando
matriculamos nossos filhos na escola estamos cheios de expectativas positivas e
empolgação mas também um pouco inseguros pois lidamos com o desconhecimento da
real competência deles neste contexto.
Se a
adaptação ocorre de forma tranquila e ele retorna alegre, cheio de novidades e
as professoras vivem tecendo elogios sobre ele ficamos tranquilos e muito
satisfeitos com a escolha que fizemos e sentimos orgulho pelo filho que temos.
Porém, nem sempre as coisas são assim tão tranquilas e as nossas expectativas
podem ser frustradas desde o primeiro dia ou após o resultado das notas ou a reunião
de pais. Este contexto da dificuldade escolar é bem frequente e tem causas
variadas. É necessário definir qualquer situação que possa estar causando
sofrimento ou ansiedade pois o que a criança vivencia na escola gera tensões
emocionais e percepções profundas sobre si mesma e das expectativas que os
outros têm sobre ela. A percepção da competência na escola pela criança gera
uma satisfação importante e eleva a auto-estima, moldando uma imagem positiva de
si que se mantém por toda a vida com reflexos na idade adulta.
Devemos
sempre considerar que cada criança amadurece de uma forma muito particular desde
os primeiros anos de vida e esta variabilidade é percebida entre crianças da
mesma família. É claro que existe um padrão de normalidade em que consideramos
uma idade limite para aquisição de cada habilidade. Imagine que uma criança com
desenvolvimento adequado pode andar aos 9 meses ou aos 16, 18 meses e não
significar nenhum problema nem quando é mais precoce ou mais tardio se o
contexto neuro-psicomotor da criança estiver coerente com as habilidades por
ela apresentadas. O desenvolvimento da
linguagem verbal, controle de esfíncteres de fezes e urina, habilidades
sociais, aceitação de regras e limites até leitura e escrita e habilidades
matemáticas seguem uma ordem cronológica mais ou menos definida onde fatores
intrínsecos da criança (genéticos e orgânicos) e fatores ambientais interagem
entre si influenciando o padrão desta criança ao longo do seu desenvolvimento.
Mas a
questão é a seguinte: quando aquela angústia ou rejeição a atividades escolares
é realmente um problema? E quanto à escola? Será que foi a melhor opção? Será
que existe um problema na forma como os pais conduzem ou cobram as
responsabilidades?
Em primeiro
lugar devemos considerar a saúde global da criança, seu estado nutricional, a
qualidade da sua respiração, o padrão de sono, uso de medicamentos, outros
sintomas como dor de cabeça , por exemplo. Problemas respiratórios como
hipertrofia de adenoides causam obstruções e atrapalham a respiração diminuindo
a oxigenação cerebral, afetando o sono e deixando a criança cansada no dia
seguinte. Enxaqueca e dores crônicas, infecções de repetição, problemas
intestinais e crises de asma também atrapalham a longo prazo. Desta forma, o
pediatra que acompanha a criança poderá identificar estes fatores precocemente
de modo a evitar que se manifestem como dificuldade na aprendizagem.
Algumas
crianças têm um comportamento um pouco mais difícil, os pais são procurados
pelos professores da escola ou de aulas especializadas com queixas como
conversa excessiva, agitação, dificuldade em aceitar regras e cumprir os combinados,
atitude desafiadora ou agressiva, etc. Estes comportamentos também se
relacionam com crianças inadaptadas que têm conflitos frequentes com seus
colegas e professores e ainda percebem seus pais angustiados e
insatisfeitos com tais condutas.
Ainda
existe o questionamento natural sobre a escolha da escola em questão, se há uma
análise correta da equipe pedagógica sobre a criança e se realmente algumas
alternativas e condutas tomadas pelos professores poderiam minimizar as
dificuldades apresentadas com melhoria dos resultados e comportamento. Estas
são as dúvidas frequentes que incomodam os pais que são acionados pela escola que
sinalizam problemas em seus filhos.
O que é
muito importante definir é o tipo e a intensidade do prejuízo que a criança tem
apresentado como reflexo do contexto escolar. Além de um baixo desempenho, com
notas baixas e um aproveitamento insatisfatório a criança pode estar insegura e
reativa e pode apresentar comportamentos conflituosos e problemas no
relacionamento com colegas e professores. Além disso pode evoluir com
ansiedade, se recusar à realizar as tarefas propostas, se sentir desmotivado e
apático no desenvolvimento de suas obrigações escolares chegando mesmo a
quadros mais preocupantes como distúrbios de conduta ou depressão.
Quando
estas situações se apresentam, o auxílio de profissionais experientes
(pedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos e pediatras) conduz a uma avaliação mais
definitiva sobre a criança e indica ou não a necessidade de uma avaliação
neuropediátrica ou psiquiátrica dependendo de cada caso.
É muito
importante que a criança (mesmo as da educação infantil) tenha uma rotina
adequada e de fácil entendimento para que se organize e consiga cumprir com as
suas tarefas diárias de forma confortável. Uma forma divertida é uma tabela que
deve ser afixada no quarto da criança com todas as tarefas bem definidas
durante todo o dia nos dias de escola, com horário para o dever de casa e o estudo.
Dessa forma fica claro o que se espera da criança sem necessidade de ficar
repetindo os comandos o tempo inteiro, o que gera um clima de tensão e
desgaste, cansando a todos que convivem com tais “cobranças mal
sucedidas”. Deve-se deixar bem claro os
horários de lazer e limitar vídeo-games, TV, celulares e internet. Colocar
carinhas felizes, estrelinhas em cada dia transcorrido pode motivar a criança a
cumprir esta rotina reconhecendo seus esforços e associando a sua atitude com
percepção de competência e reconhecimento dos pais e familiares o que é
interessante e divertido.
A criança
deve dormir satisfatoriamente (cerca de 8 h) nos períodos de aula para que
esteja descansada e bem disposta no dia seguinte. Atividades esportivas regulares
também auxiliam na saúde física e mental da criança e é uma boa maneira de
assegurar atividade de qualidade com estímulo à disciplina e motivação. Uma
alimentação saudável, que evite excesso de doces, refrigerantes e produtos
industrializados também já está definitivamente associado a crianças mais
tranquilas, concentradas e saudáveis.
O mais
importante, no entanto, é dimensionar coerentemente as nossas próprias
expectativas a fim de evitar comparações, críticas excessivas, adjetivos que
menosprezam e diminuem e observar a criança nas suas características
individuais, com suas habilidades naturais e qualidades, valorizando desta forma
o que ela fizer com esforço, carinho e atenção. A criança vai encontrar sua
maneira de ser no mundo aos poucos, vai experimentando sucesso e frustração e
se adequando devagar. Devemos assegurar às nossas crianças a experiência de se
conhecerem desde cedo e se aceitarem como são, dando recursos a elas para que
sejam mais felizes e auto confiantes.
Uma das situações mais comuns de procura de um neurologista pediátrico (para crianças e adolescentes) e a dificuldade escolar ou transtorno de aprendizagem. Familiares, professores da escola ou de cursos especializados (esportes, línguas, etc)e psicólogos notam que a criança ou adolescente tem uma certa dificuldade: assimilar a matéria dada em sala de aula, baixo desempenho nas avaliações com notas abaixo da media da turma e/ou comportamento inadequado.
Durante a consulta, a
criança/adolescente deve ser ouvida sobre suas dificuldades e expectativas
juntamente com seus pais. Tanto o comportamento em sala de aula quanto em casa
sao importantes para se definir a verdadeira causa do problema. A entrevista
medica ja pode esclarecer, mas um exame neurológico (testes feitos em
consultório) também deve ser realizado na consulta a fim de detectar ou
descartar disfunções neurológicas especificas (cognitivas, motoras,
sensoriais). Apos esta etapa, o medico deve decidir se ha ou nao a necessidade
de outros exames para o diagnostico. A opinião da escola e muito importante.
Atraves de questionários ou relatórios, o profissional pode obter informações
importantes da equipe escolar. Os psicólogos e terapeutas também devem avaliar
a criança e auxiliar o medico na formalização do diagnostico. No entanto, cabe
apenas ao medico decidir sobre ou uso ou nao de medicamentos. O medico também pode
solicitar os cadernos e avaliações para ter uma ideia mais precisa sobre o
contexto da criança/adolescente.
Apos esta primeira fase de diagnostico
que pode necessitar mais de uma consulta medica e testes neuropsicológicos
(executados por psicoterapeutas com conhecimento na área), a abordagem vai
depender do tipo de problema apresentado.
Os problemas mais comuns sao:
ü
TDAH (Transtorno do Deficit de
atenção/hiperatividade)
ü
Dislexia
ü
Transtorno de conduta
ü
Transtorno desafiador-opositor
ü
Transtorno de ansiedade
ü
Retardo mental
ü
Uso de drogas
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